quarta-feira, 4 de maio de 2011

Capítulo 5 - Tocaia dos mortos

         Nahpy recolheu sementes de urucu para pintar os garotos que iriam passar pelo ritual de iniciação dos guerreiros. Alguns dias antes, ele tinha mandado seus colaboradores buscar na floresta as fibras de arumã com as quais confeccionaria as luvas revestidas de formigas saracás. Os meninos teriam de colocar as mãos nas luvas e agüentar as ferradas das formigas, sem demonstrar sofrimento. Precisavam provar a eles mesmos e aos outros a capacidade de superar a dor e o desconforto, virtudes imprescindíveis àqueles que desejavam a glória de serem reconhecidos como guerreiros.
         O pajé estava muito ocupado, tratando dos detalhes do ritual. Taobara o acompanhava a todo instante nos últimos dias, interessado em organizar uma festa irrepreensível, para impressionar os caciques convidados. Os dois reuniram os meninos e explicaram o significado do ritual de passagem dos guerreiros guanavenas.
         - Nossos ancestrais descobriram que as ferroadas das formigas, embora dolorosas, protegem os bravos contra várias doenças da floresta, tornando-os mais fortes e saudáveis, informou Nahpy. Desde então, para os homens da nossa tribo serem declarados guerreiros, eles precisam colocar a mão dentro da luva das formigas e esquecer a dor, o sofrimento, e assim estarão aptos a vencer as guerras.
         Os meninos olhavam com atenção os dois maiores exemplos de virtudes dos guanavenas, pois quem lhes falava era o pajé mais respeitado de toda a região, conhecedor dos segredos dos antepassados e curandeiro das mais temíveis doenças. Ao seu lado estava Taobara, o chefe dos guerreiros, honrado por sua coragem e bravura, como bem o demonstrara nos combates contra os omáguas.
         - Em breve, quando tiverem passado pelo ritual de iniciação, todos serão considerados bravos, poderão ir para guerra, conquistar a honra nos combates, derrotar o inimigo mais poderoso, exultou Taobara. Mas é preciso saber, continuou o cacique, que não basta ter apenas coragem, porque a coragem sem honra não dignifica o guerreiro, não o faz homem, não deixa orgulhosos seus parentes. Para o guerreiro adquirir a honra é preciso seguir as ordens dos chefes, saber segui-lo nas batalhas, dar a sua vida, se preciso, para salvar aquele que o comanda. Este é o guerreiro, corajoso, mas também honrado.
         As palavras de Taobara não empolgaram o pajé, que as considerou viciosas e poderiam deixar os jovens sem discernimento ao certo ou errado, como bem queria o cacique. Para Taobara, o melhor era doutrinar os guerreiros a obedecê-lo, sem colocar em dúvidas suas ordens, e segui-lo nas guerras, mesmo que o destino desses pequenos bravos fosse o caminho da morte. Nahpy olhou seu filho Aiauara entre os iniciados no ritual dos guerreiros, viu também Pajuari sonhando em casar-se com Tawacã, olhou os olhos brilhantes de Pikiwaha entorpecido pelo orgulho de ver o pai cacique, maioral da tribo, posto ao qual aspirava suceder quando chegasse seu tempo, e ficou imaginando o perigo que todos corriam ainda no esplendor da vida, ao serem encaminhados às guerras que não lhes pertenciam, para morrer em nome da glória de um cacique ansioso por conquistar novos territórios e aumentar seu poder sobre os guanavenas.
         O pajé mandou os jovens irem à praia, tomar banho e brincar porque a partir desta noite deixariam o mundo das crianças e entrariam no dos adultos, com suas responsabilidades e tarefas específicas. Eles foram, brincaram com uma alegria incomum, pois sabiam que suas vidas mudariam depois de enfrentar os rituais de passagem durante uma noite inteira de danças para pôr à prova a resistência de seus corpos. Aiauara, como sempre, estava ao lado de seus primos Pajuari e Pikiwaha, participando das brincadeiras e, entre um mergulho e outro, eles paravam para falar de seus planos para o futuro.
         - Vou matar todos os omáguas e muras que encontrar pela frente, jactou-se Aiauara. Eles vão saber da força de minha borduna e terão sempre medo dela.
         - Eu serei temido por todos os meus inimigos, assim como os omáguas agora temem a força de meu pai, disse Pikiwaha, orgulhoso de ser filho do grande cacique dos guanavenas.
         - E de mim, logo estarão falando que sou o maior guerreiro guanavena, cuja força e coragem fazem tremer os corações dos inimigos, gabou-se Pajuari, confiando no desenho de seus músculos e no respeito a eles conferidos desde quando era criança.
         Os jovens depois foram chamados ao centro da taba. Eram os últimos preparativos para o início do ritual. No caminho, Pajuari segurou o braço de seu primo Aiauara e comentou com certo rancor o fato de Nahpy ter-lhe negado Tawacã como esposa. O jovem se sentia ofendido, mas não guardava mágoa de seu companheiro, pois sabia que Aiauara queria vê-lo casado com sua irmã. Para consolá-lo, o filho do pajé entendeu seu braço sobre o ombro de Pajuari.
         - Ninguém pode negar o teu valor e a tua honra, meu primo, mas as decisões tomadas por meu pai sempre se mostraram acertadas, disse Aiauara. Por isso, é melhor que encontres outra esposa, porque Tawacã nunca será tua.
         Pajuari retirou com força o braço do companheiro de seu ombro e lhe lançou um olhar fulminante, porque neste momento percebeu o quanto seu primo e melhor amigo não o queria como esposo de Tawacã. Aiauara entendeu as razões de Pajuari. Sabia o quanto o primo amava sua irmã e por isso não tentou consolá-lo com palavras, apenas recolheu o braço e baixou os olhos, sem encontrar forças para desafiar o companheiro. O jovem sabia que qualquer coisa que dissesse poderia aumentar ainda mais o sofrimento de Pajuari, preterido em sua vontade de desposar a filha do pajé.
         Quando chegaram ao centro da taba, os jovens receberam novas instruções, desta vez de Itaúna. O homem mais velho da tribo, antigo maioral dos guanavenas e agora chefe do conselho dos anciãos, tinha muito a dizer àqueles que se preparavam para entrar no mundo dos adultos, onde as experiências seriam diferentes e as atitudes arriscadas, porque teriam de caçar e pescar para manter as suas novas famílias e o mais arriscado de tudo: teriam de ir para a guerra quando o território dos guanavenas estivesse ameaçado por inimigos. Neste momento estava em jogo a própria vida e morrer era uma questão presente, bastava um descuido, um despreparo, e a arma do inimigo seria fatal.
         - Na hora do combate não basta apenas força bruta, é preciso astúcia para vencer e sabedoria para enfrentar o inimigo, explicou Itaúna. É preciso também respeitar o adversário, porque assim como a vida dele está em nossas mãos, nossas vidas estão a um passo de suas armas.
         O ancião mostrou as inúmeras cicatrizes pelo corpo, contando a história de cada uma e a forma como as adquiriu. Falou das guerras que participara, dos caciques inimigos que combatera e matara, mas sempre mostrando reverência aos adversários e olhando humilde os jovens que em breve estariam colocando as mãos nas luvas de formigas para provar coragem. Então Itaúna sentiu seu coração se apertar ao vislumbrar como seriam árduas as vidas desses garotos, entre os quais, somente alguns com sorte chegariam à sua idade, pois muitos tombariam ainda no frescor da idade durante as batalhas. E o ancião, no fundo de sua alma, chorou antecipadamente à morte desses jovens, mas sem lágrimas expostas, para não desacreditar suas palavras enquanto falava.
         - Mirem-se no exemplo da onça, que embora possuidora de toda a força da floresta, espreita a presa antes de dar o bote final, disse Itaúna, e sejam felizes na nova vida que em breve estarão assumindo.
         O chefe do conselho dos anciãos não tinha mais nada a dizer aos jovens, pois tudo já dissera com o exemplo de sua vida e a forma como chegara até a idade avançada, respeitado por todos os guerreiros da tribo, pelas mulheres e pelas crianças. Mas quando se preparava para voltar a sua cabana, lembrou de alertá-los contra a ambição incomensurável de Taobara.
         - Também é preciso sabedoria no momento de seguir o chefe, pois nem sempre quem lidera toma decisões para beneficiar a todos, principalmente se levar em conta apenas sua ambição pessoal, concluiu Itaúna, e se retirou.
         Taobara não escutou o alerta do ancião sobre sua vontade de combater outras tribos, porque estava na floresta com outros bravos recolhendo lenha para as fogueiras do ritual, mas as palavras de Itaúna chegaram ao seu ouvido levadas pela boca vigilante de Warypa. Ao ouvi-las, o cacique ficou ainda mais resoluto na determinação de afastar de seu caminho o chefe dos anciãos, que estava se tornando um problema sério aos seus planos de conquista.
         Depois de ouvir as palavras de Itaúna os jovens foram levados para o morro, no lado oposto da aldeia e na parte mais alta da ilha, por onde o sol mergulha entre os arquipélagos do Canaçari e a foz do rio Orowo. Ficaram contemplando o astro deus, invocando sabedoria e coragem para nesta noite tudo correr bem para eles, como tem sido desde tempos remotos, sem nenhum jovem retirar as mãos da luva que os torna homens. Seguiram o brilho de lua, que se anunciava cheia. Quando entraram na taba, o clarão das fogueiras iluminou o rosto de cada um dos jovens e no lusco-fusco das chamas suas fisionomias perderam os traços infantis, adquirindo a dureza das faces adultas, porque chegara o momento do ritual, quando deixariam o mundo das crianças e participariam da vida da tribo. Os jovens fizeram um círculo em volta da fogueira principal e ali ficaram dançando, saudando o fogo que representa a chama viva de Paharamim. Dançaram até suas pernas estarem entorpecidas e a mente em transe. Havia chegado o decisivo instante para o qual os meninos se prepararam desde quando nasceram.
         Em volta dos jovens todos os seus parentes também seguiam os passos das danças, como fazia a tribo inteira. Já os convidados caboquenas e bararurus acompanhavam um pouco distante o ritmo, cercando seus respectivos caciques, todos admirados com a quantidade de novos guerreiros que se integrariam aos bravos guanavenas. Para o maioral dos caboquenas, cacique Uataçara, não passou despercebida a intenção de Taobara em mostrar aos aliados o quanto seu exército crescia e ficava mais poderoso. Ele chegou a comentar com seus comandados.
         - Grande festa para os guanavenas é a consagração de tantos guerreiros, mas será um problema convivermos com aliados tão poderosos, disse Uataçara a seus bravos.
         Quando a lua cheia desenhou uma grande linha prateada no espelho do lago, o ritmo da dança foi quebrado pelo som do maracá de Nahpy, que saiu de sua cabana paramentado para anunciar à tribo e aos convidados o início do ritual de iniciação dos guerreiros. O grito do pajé guanavena ecoou na noite e trouxe espanto aos corações dos jovens, pois pela primeira vez eles viram as luvas que os colocariam no centro da vida da aldeia. Foram trançadas uma a uma com esmero pelas mulheres. Entre as malhas da fiação foram colocadas formigas de poderosas mandíbulas e fortes mordidas, e a agonia de estarem presas tornava-as ainda mais ferozes.
         O pajé chamou para o centro da taba os jovens e seus parentes, mas os convidados também se aproximaram porque ninguém queria perder o momento máximo para cada homem da tribo. Então, com o calor da grande fogueira ardendo no rosto de todos, os jovens foram colocando as mãos dentro das luvas e sentindo as primeiras ferroadas a transformar suas fisionomias. No rosto de alguns as primeiras lágrimas começaram a correr, mas entre os mais destemidos, apenas uma expressão de perplexidade se anunciava nos olhos. Quando estavam com os braços entorpecidos pela dor retornaram à dança levados pelo ritmo frenético dos tambores, pela turbulência das luzes das fogueiras, pelo cantar dos parentes e convidados e pelas ferroadas implacáveis das formigas. Era a forma conhecida de esquecer o sofrimento, por isso gritavam no transe da dança e assim escondiam o verdadeiro grito que saía do espírito: o da dor.
         Somente quando a lua atingiu o alto do céu a dança parou e começaram a retirar as luvas dos novos guerreiros. Neste momento era como se todos fossem iguais, porque seus rostos estavam tomados pelo torpor, causado tanto pela dança como pelas ferroadas. Nahpy aliviou de Aiauara as luvas e pode ver o sangue escorrendo das feridas na mão inchada. Percebeu também no rosto do filho traços que a poeira havia riscado ao se impregnar nas lágrimas, mas mesmo assim respeitou a nova condição do filho, porque agora ele deixara de ser uma criança, sem permissão para manejar armas, e atingira a idade de guerreiro, podendo falar nas reuniões da tribo.
         O pajé anunciou o fim do ritual de iniciação chacoalhando seu maracá e, então, levou os novos guerreiros até a beira do lago para se lavarem da poeira, do suor, das lágrimas e do sangue impregnados nos corpos. Era um alívio para os bravos o contato com as águas tépidas. O mormaço serviu de ungüento para os ferimentos e relaxou o espírito agoniado pela provação de se tornarem adultos. Em seguida entraram nas águas os parentes e os convidados, no banho coletivo da purificação, para todos estarem limpos quando se iniciasse a fase final da festa, a mais animada e esperada por todos.
         Quando o povo saiu das águas foram servidas as comidas, em abundância, primeiro para os convidados, em sinal de respeito. Taobora era quem oferecia os peixes, colocados em grandes folhas, junto com bolos de mandioca, com frutas diversas, com sucos das palmeiras, com o melhor que a terra dos guanavenas oferecida ao seu povo, tanto para deixar claro aos aliados que os homens da ilha Saracá eram fortes porque estavam bem alimentados, assim como também tinham dignidade e honra para deixar os convidados provarem das coisas de sua ilha.
         Em seguida, a festa se estendeu a todo o povo e as fogueiras começaram a exigir mais lenha para esquentar as grelhas e não deixar faltar comida. As mulheres guanavenas não relaxavam na função, virando os peixes para assarem por igual, enquanto em outras fogueiras as tartarugas crepitavam sobre as brasas. Seus cascos explodiam no calor das gorduras, que eram servidas às fartas, para delícia de guerreiros e convidados. Os quelônios eram abertos com pequenas pancadas e os guerreiros sorviam suas carnes, seus ovos, suas vísceras, suas banhas. Arrancavam as patas, punham-nas na boca para cuspir apenas os ossos e as garras, sentindo o prazer de ver escorrer pelo rosto a manteiga dos bichos, o alimento principal das grandes festas e abundantes nos lagos e nos rios.
         Um jovem guerreiro caboquena, Monawa, para impressionar aos demais convidados e mais ainda aos anfitriões, tirou do fogo uma iaçá, deu um golpe com os próprios punhos em seu casco fragilizado pelo calor, enfiou os dedos entre a cavidade do pescoço e abriu o corpo do animal de lado a lado, expondo todas as carnes. Monawa enfiou a boca no repasto e retirou o rosto lambuzado de gordura. E gritou: “Eu sou uma onça!”
         Todos se divertiram com a ousadia do impetuoso caboquena, mas a quem se destinava o verdadeiro sentido da bravata não se deixou comover pela brincadeira, porque Tawacã reconheceu em Monawa o mesmo rosto do guerreiro ferido nas guerras contra os omáguas que, quase morto, lhe segurou os braços com força e jurou que ela seria sua esposa. O gesto do guerreiro fez Tawacã, orgulhosa devido à nova condição do irmão mais velho, lembrar da determinação com a qual o caboquena lhe prometeu casamento, mesmo estando perto da morte.
         Neste momento passou pelo pensamento da jovem índia uma incerteza sobre seu futuro, porque ela poderia muito bem desposar o guerreiro caboquena e assim cumprir a sina das demais mulheres das tribos: casar com homens das nações aliadas. Ela pensou em sua mãe, nascida no meio dos caboquenas, mas casada com o pajé guanavena, a quem dera bons filhos. “Será meu destino deixar a ilha Saracá e ir viver nas matas longínquas do rio Orowo?” Este pensamento aterrorizou Tawacã, que então voltou seus olhos para Monawa, e de repente não o viu mais como um inimigo, mas como um provável marido. Então, de seu belo rosto partiu um ricto em direção ao guerreiro, mas tanto podia ser de aprovação quanto de desprezo.
         Em pouco tempo sobravam poucos peixes e tartarugas nas grelhas, mas o povo estava saciado, não era preciso servir mais comida. Como a Taobara fora destinado a honra de oferecer o alimento, símbolo da força, a Nahpy cabia a função de ofertar o caxiri, a representação da sabedoria e do mundo mágico, que levava os homens ao encontro dos espíritos. O pajé conclamou os maiorais das três tribos, juntamente com os veneráveis anciãos para serem os primeiros a saborear da bebida. Foram oferecidas pequenas cuias e todos se serviram.
         - Bebamos em honra de nossos ancestrais e que o caxiri nos leve até a presença dos grandes espíritos e de Paharamim, conclamou Nahpy, erguendo sua cuia em direção à lua imensa, que começava a deitar no horizonte. O pajé, em seguida, levou aos lábios a dose da bebida e tomou de um único gole, sendo imitado pelos demais convidados. Então outras cuias foram distribuídas aos guerreiros e, em pouco tempo, todos bebiam o caxiri com abundância, como determinara Taobara e com o consentimento irrestrito de Nahpy.
         Quando estava amanhecendo, já com as mulheres e as crianças dormindo, Itaúna pediu para falar aos convidados. Suas palavras estavam imprecisas devido ao efeito da bebida, mas quando o venerável ancião se pôs de pé, ainda baforando os últimos rolos da fumaça de seu cachimbo, uma lucidez tomou conta de seu espírito e esta sensação se espalhou em todos que se preparavam para escutá-lo.
         - Quero agradecer a presença dos nossos aliados, começou a discursar o velho ancião, por atenderam ao convite para participar de nossa grande festa. Itaúna procurou o equilíbrio em mais uma baforada de seu cachimbo, pediu a cuia de bebida daquele que se encontrava mais perto, bebeu todo o conteúdo e concluiu suas palavras. Espero que tenham vindo até nossa ilha com o espírito em paz, porque tenho certeza de que voltarão para suas aldeias com o coração tranqüilo, uma vez que nesta noite foi reforçada a aliança entre nossos povos.
         O ancião terminou seu discurso, mas precisou ser auxiliado por outros braços para poder sentar, pois as pernas fraquejaram diante da embriaguês do caxiri. O dia estava amanhecendo e alguns guerreiros começaram a dormir na praia, embalados em sonhos trazidos pelo efeito da bebida. Os que permaneciam acordados, cambaleavam de um lado para outro, buscando as redes, mas sem achar a entrada da cabana. Numa tentativa de encontrar o lugar onde Tawacã dormia, Monawa se aventurou pela taba, mas suas pernas não lhe permitiram caminhar muito tempo e então encontrou abrigo na acapuraneira mais próxima e ali tombou. Sob o efeito do caxiri, o apaixonado guerreiro sonhou que em seus braços dormia a mais bela mulher guanavena, lhe sorrindo feliz. De súbito, Tawacã desapareceu de seu colo e outros espíritos vieram povoar os pesadelos. Dormiu agoniado pelos maus sonhos, pelas ferroadas das formigas e nas más acomodações da raiz.